Conheça Maria Bethânia, nossa Abelha Rainha
Maria Bethânia Viana Teles Veloso, nascida em Santo Amaro em 18 de junho de 1946, é uma figura multifacetada no cenário artístico brasileiro. Reconhecida como “Abelha Rainha” e “Rainha da MPB”, ela é uma cantora, compositora, produtora, atriz e poetisa de renome.
Desde sua juventude, Maria Bethânia esteve envolvida em atividades teatrais, muitas vezes ao lado de seu irmão, o também talentoso Caetano Veloso, e de outros músicos proeminentes da época. Sua incursão na música começou em 1965, quando se mudou para o Rio de Janeiro e assumiu o lugar da cantora Nara Leão no espetáculo Opinião. Nesse mesmo ano, assinou contrato com a gravadora RCA e lançou seu primeiro álbum homônimo.
Com uma carreira que ultrapassa cinco décadas e mais de 26 milhões de discos vendidos, Bethânia foi reconhecida em 2012 pela revista Rolling Stone Brasil como a quinta maior voz da música brasileira.
1946—64: Início de vida e carreira
Maria Bethânia Viana Teles Veloso veio ao mundo em 18 de junho de 1946, na cidade de Santo Amaro, na Bahia. Ela é a sexta filha de José Teles Veloso, funcionário dos Correios, e Claudionor Viana Teles Velloso, mais conhecida como “Dona Canô” (1907-2012), casados em 7 de janeiro de 1931. Sua ascendência inclui raízes portuguesas, afro-brasileiras e, especificamente, indígenas da etnia pataxó por parte de sua bisavó paterna. Seu nome foi escolhido por seu irmão, Caetano Veloso, inspirado na valsa “Maria Betânia”, do compositor Capiba, interpretada por Nélson Gonçalves.
Nascida em uma família de artistas, Maria Bethânia é irmã da escritora Mabel Velloso e do cantor, compositor e poeta Caetano Veloso, além de ser tia dos cantores Belô Velloso e Jota Velloso.
Desde jovem, Maria Bethânia aspirava ser atriz. Para seguir esse sonho, em 1960, mudou-se para Salvador com o objetivo de concluir seus estudos. Lá, ingressou na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, imergindo no cenário artístico local, frequentando exposições de artes plásticas, shows musicais e o vibrante ambiente estudantil.
Em 1963, seu irmão Caetano foi convidado para compor a trilha musical da peça “Boca de Ouro”, de Nelson Rodrigues, e convidou Maria Bethânia para interpretar as músicas. Esse foi seu primeiro trabalho profissional na música. Mais tarde, ao lado de Caetano, Gilberto Gil e Gal Costa, ela estreou o espetáculo “Nós, Por Exemplo” em agosto de 1964. No mesmo ano, participou de shows como “Nova Bossa Velha, Velha Bossa Nova” e “Mora na Filosofia”.
1965—66: Maria Bethânia, Maria Bethânia Interpreta Noel Rosa e Eu Vivo num Tempo de Guerra
Em 13 de fevereiro de 1965, Maria Bethânia teve sua estreia profissional ao substituir Nara Leão no espetáculo “Opinião”, no Rio de Janeiro, por motivos de saúde da cantora e violonista. Bethânia conheceu Leão no ano anterior, na Bahia, onde assistiu a um dos espetáculos em que a própria atuava. Foi desse espetáculo que surgiu o primeiro sucesso de Bethânia, a canção de protesto “Carcará”, originalmente composta para Nara Leão.
No mesmo ano, assinou contrato com a gravadora RCA e lançou seu primeiro álbum homônimo, “Maria Bethânia”, em junho. O álbum incluía, além de “Carcará”, músicas como “Mora na Filosofia”, “Andaluzia”, “Feitio de Oração” e “Sol Negro”, esta última em dueto com Gal Costa. Também em 1965, lançou um compacto triplo intitulado “Maria Bethânia Canta Noel Rosa” e um compacto simples chamado “Eu Vivo num Tempo de Guerra”. Além disso, participou dos espetáculos “Arena canta Bahia” e “Tempo de Guerra”, ambos dirigidos por Augusto Boal, e competiu em festivais.
Com apresentações em teatros e casas de espetáculos em São Paulo e no Rio de Janeiro, Maria Bethânia conquistou reconhecimento nacional.
1967—74: Parcerias e Palcos: Edu e Bethânia, Recital na Boite Barroco, Velloso-Bethânia-Gil e Nada Além
Em 1967, Maria Bethânia viu sua carreira ganhar impulso com o lançamento do álbum “Edu e Bethania”, em parceria com Edu Lobo, a pedido dele. Edu, um jovem cantor e compositor, assim como Bethânia, estava solidificando sua posição após o sucesso inicial no espetáculo “Opinião”. No disco, Bethânia teve solos em duas faixas e participou de duetos com Edu em músicas como “Cirandeiro”, “Sinherê” e “Prá Dizer Adeus”, esta última se destacando como um grande sucesso que a colocou firmemente entre as grandes cantoras do Brasil.
Em 1968, ela interpretou a música tema do filme “O Homem que Comprou o Mundo”, de autoria de Francis Hime. No mesmo ano, buscando afastar sua imagem de “cantora de protesto” associada à canção “Carcará”, Bethânia mergulhou em uma série de pequenos shows e recitais em boates do Rio de Janeiro e São Paulo, onde explorou um repertório mais romântico e resgatou sucessos do cancioneiro brasileiro. Desse período boêmio surgiu seu primeiro álbum ao vivo, “Recital na Boite Barroco”, gravado na boate homônima no Rio de Janeiro, marcando sua estreia na gravadora Odeon. Também em 1968, a RCA Victor lançou uma coletânea de seus primeiros sucessos, intitulada “Velloso-Bethânia-Gil”, ao lado de seu irmão Caetano Veloso e Gilberto Gil.
No ano seguinte, Bethânia lançou seu terceiro álbum homônimo, apresentando canções de diversos compositores da MPB e marcando sua aproximação com o candomblé, onde passou a cantar pontos tradicionais. Destacam-se no disco a regravação de “Prá Dizer Adeus” e a canção “Preconceito”. Durante todo o ano de 1969, ela continuou seus pequenos shows em boates no eixo Rio-São Paulo, sempre com sucesso e aclamação do público, incluindo elogios de grandes cantores como Elizeth Cardoso. A Odeon solicitou então um novo álbum ao vivo, aproveitando o sucesso do anterior, produzido por Carlos Imperial, e gravado em dezembro de 1969, em São Paulo.
Em maio de 1970, foi lançado “Maria Bethânia Ao Vivo”, seu segundo álbum ao vivo e o último pela Odeon, marcando o fim de sua fase boêmia. Diferentemente de “Recital na Boite Barroco”, este recebeu críticas negativas devido a problemas na produção, mas se destacou pelas regravações de “Meiga Presença” e “Nada Além”, dedicada à sua mãe, Dona Canô, e pela atmosfera de êxtase da plateia.
1975—76: Chico Buarque & Maria Bethânia Ao Vivo, Pássaro Proibido e Doces Bárbaros
Bethânia também foi a mentora por trás do grupo Doces Bárbaros, no qual era uma das vozes principais. O grupo lançou um álbum ao vivo homônimo junto com seus colegas Gal Costa, Caetano Veloso e Gilberto Gil. Os Doces Bárbaros representavam o espírito hippie dos anos 1970 e ao longo do tempo, essa energia inspirou um filme dirigido por Jom Tob Azulay, um DVD e até mesmo um enredo da escola de samba Estação Primeira de Mangueira em 1994, com a música “Atrás da verde-e-rosa só não vai quem já morreu”. Eles também lideraram trios elétricos no carnaval de Salvador, realizaram espetáculos na praia de Copacabana e até mesmo se apresentaram para a Rainha da Inglaterra.
Inicialmente, o disco do Doces Bárbaros seria gravado em estúdio, mas por sugestão de Gal e Bethânia, o espetáculo ao vivo foi registrado em disco. Quatro das músicas do álbum foram gravadas pouco tempo antes em um compacto duplo em estúdio: “Esotérico”, “Chuckberry Fields Forever”, “São João Xangô Menino” e “O Seu Amor”, todas consideradas gravações raras.
1977—78: Pássaro Da Manhã, Maria Bethânia e Caetano Veloso – Ao Vivo e Álibi
Desde os anos 1960, com os especiais do Festival de Música Popular Brasileira na TV Record, até o final dos anos 1980, a televisão brasileira foi palco de espetáculos de grande sucesso, destacando os novos talentos musicais. Maria Bethânia participou do especial “Mulher 80” na Rede Globo, um programa que apresentou uma série de entrevistas e performances musicais centradas na mulher e na discussão do seu papel na sociedade da época. O programa explorou essa temática dentro do contexto da música nacional, destacando a forte presença das vozes femininas. Além de Maria Bethânia, participaram do programa artistas como Elis Regina, Fafá de Belém, Marina Lima, Simone, Rita Lee, Joanna, Zezé Motta e Gal Costa. O especial também contou com as participações especiais das atrizes Regina Duarte e Narjara Turetta, que protagonizaram o seriado “Malu Mulher”.
1979—80: Mel, Mulher 80 e Talismã
Após “Álibi” (1978), Maria Bethânia lançou uma série de álbuns, incluindo “Mel” (1979), “Talismã” (1980), “Alteza” (1981), “Ciclo” (1983) e “A Beira e o Mar” (1984), todos contando com os arranjos e teclados de Lincoln Olivetti. Em “Ciclo”, a faixa “Fogueira” foi incluída na trilha sonora da novela “Transas e Caretas” de Lauro César Muniz. O álbum apresentava um repertório de onze canções, sendo nove inéditas e apenas duas regravações (“‘Rio de Janeiro – Isto é o meu Brasil” e “Ela disse-me-assim”).
No LP “A Beira e o Mar”, originado do espetáculo “A Hora da Estrela”, inspirado no famoso livro homônimo de Clarice Lispector, o repertório combinava canções inéditas com regravações, incluindo “Na Primeira Manhã”, “Nossos Momentos”, “ABC do Sertão”, “Somos Iguais” e “Sonho Impossível” – esta última gravada pela terceira vez, pois já havia sido incluída nos álbuns “A Cena Muda” e “Chico Buarque & Maria Bethânia ao vivo”, e depois, treze anos depois, no CD “Imitação da Vida”.
Após esse período, Bethânia deixou a gravadora Polygram (hoje Universal Music), com a qual estava contratada desde 1971, com o álbum “A Tua Presença…”, só retornando cinco anos depois.
1985—89: Palco Iluminado, Dezembros, Maria e Memória da Pele
O retorno de Maria Bethânia à cena musical foi marcado pelo álbum “Memória da Pele”. Durante esse período, ela teve uma breve passagem pela sua primeira gravadora, a RCA, com a qual assinou contrato para a gravação de três discos, mas apenas dois foram lançados: “Dezembros” (1986) e “Maria” (1988).
Em “Dezembros”, Bethânia surpreendeu Milton Nascimento com sua interpretação de “‘Na Primeira Manhã”, inspirando-o a compor, em parceria com Fernando Brant, a música “Canções e Momentos”, incluída no repertório do álbum. Bethânia também participou do coro da versão brasileira de “We Are the World”, projeto que arrecadou fundos para a África através do USA for Africa. Ela também contribuiu para o projeto Nordeste Já (1985), que visava ajudar a região afetada pela seca, participando de um compacto simples com as músicas “Chega de Mágoa” e “Seca d’Água”.
“Maria”, por sua vez, foi originado do espetáculo homônimo dirigido por Fauzi Arap e contou com participações especiais de artistas como Gal Costa, Lady Smith Black Mambazo e Jeanne Moureau. Algumas músicas do álbum, como “Tá Combinado” e “Verdades e Mentiras”, fizeram parte das trilhas sonoras de novelas da Globo. Em reconhecimento ao seu trabalho, Maria Bethânia foi agraciada com o grau de Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal, em 26 de novembro de 1987.
1990—99: 25 Anos de Carreira
Na década de 1990, Maria Bethânia celebrou seus 25 anos de carreira com o LP “25 Anos”, apresentando um repertório brasileiro diversificado, com participações especiais de renomados artistas. Este álbum marcou também o início de uma série de projetos marcantes.
Em seguida, Bethânia lançou o álbum “Olho d’Água” (1992), onde além de explorar temas regionais e religiosos, demonstrou novamente sua versatilidade artística. Destaque para a inclusão da canção “Além da Última Estrela” na trilha sonora da novela “Renascer”.
O trabalho “As Canções que Você Fez pra Mim” (1994) foi uma homenagem à dupla Roberto e Erasmo Carlos, ganhando até mesmo uma versão hispânica. O projeto gerou um LP promocional, um VHS e um espetáculo dirigido por Gabriel Vilela.
Em 1995, Bethânia se despediu da Universal Music com o lançamento do álbum ao vivo “Maria Bethânia ao Vivo”, que reuniu sucessos antigos e canções do álbum dedicado a Roberto Carlos.
No ano seguinte, em 1997, Bethânia foi honrada com o título de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, de Portugal. Seu próximo trabalho, “A Força Que Nunca Seca” (1999), apresentou uma variedade de releituras e canções inéditas, como “Romaria” e “É o Amor”, esta última parte da trilha sonora da novela “Suave Veneno”. O espetáculo que promoveu este disco resultou no CD duplo “Diamante Verdadeiro” (1999), onde Bethânia incluiu também textos de poetas renomados.
2000—09: importantes transições em sua carreira
Durante os anos 2000, Maria Bethânia passou por importantes transições em sua carreira, marcadas por lançamentos significativos e reconhecimentos.
Em 2001, deixou as grandes gravadoras e ingressou na independente Biscoito Fino. Seu primeiro trabalho nesta nova fase foi o duplo “Maricotinha ao Vivo”, comemorativo de seus trinta e cinco anos de trajetória. Este álbum incluiu regravações de sucessos antigos e canções do álbum de estúdio homônimo lançado no ano anterior.
Em 2003, lançou o selo Quitanda pela Biscoito Fino, visando gravar discos de menor apelo comercial e promover novos talentos, como Mart’Nália e Dona Edith do Prato. Paralelamente, comercializou o álbum “Cânticos, Preces, Súplicas à Senhora dos Jardins do Céu”, gravado inicialmente em 2000 para angariar fundos para a restauração da matriz de Santo Amaro, cidade natal da cantora.
No mesmo período, Maria Bethânia expandiu suas atividades para a direção artística, produzindo homenagens e dirigindo espetáculos de outros artistas, além de atuar em turnês e lançamentos próprios. Em 2005, foi tema de um documentário sobre sua vida e obra, intitulado “Música é Perfume”.
Em 2006, foi laureada com três prêmios no Prêmio TIM de Música, incluindo melhor cantora e melhor DVD. Além disso, relançou seus antigos LPs em CD, agora com encartes completos e informações detalhadas.
Nesse mesmo ano, lançou dois álbuns simultaneamente: “Pirata”, explorando os rios do interior do Brasil, e “Mar de Sophia”, uma homenagem à poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner. A turnê “Dentro do Mar tem Rio”, derivada desses álbuns, resultou em um álbum duplo homônimo lançado em 2007.
Bethânia continuou sua incursão no audiovisual, lançando em 2007 um DVD duplo com documentários sobre sua vida. No mesmo ano, conquistou diversos prêmios TIM, consolidando seu reconhecimento na música brasileira.
Em 2008, realizou uma turnê com a cantora cubana Omara Portuondo, culminando na gravação de um DVD ao vivo em Belo Horizonte. No ano seguinte, lançou o DVD “Dentro do Mar tem Rio” e os álbuns “Encanteria” e “Tua”, com faixas inéditas, consolidando sua presença artística diversificada e profundamente enraizada na cultura brasileira.
2010—presente: Por onde Anda Maria Bethânia
Em junho de 2010, Maria Bethânia quebrou um longo hiato televisivo ao prestar uma emocionante homenagem a Erasmo Carlos durante uma edição especial do Programa Altas Horas, celebrando os 50 anos de carreira do artista. Na ocasião, ela interpretou duas canções icônicas do compositor: “As Canções que Você Fez pra Mim” e “Sentado à Beira do Caminho”.
O DVD “Carta de Amor”, lançado em 2013, apresenta uma turnê baseada no álbum “Oásis” de Bethânia, cujo título é incorporado em um poema-canção escrito pela própria cantora. Em 2014, a faixa-título do álbum recebeu uma indicação ao Grammy Latino de Melhor Canção Brasileira.
No ano de 2015, Maria Bethânia foi o epicentro de diversas homenagens, especialmente em meio às comemorações de meio século de sua carreira. A turnê “Abraçar e Agradecer” marcou esse momento especial, contando com participações de artistas como Zélia Duncan, Arlindo Cruz, João Bosco, Camila Pitanga e Lenine. Destaque foi dado ao cenário concebido por Bia Lessa, enquanto Bethânia, fiel à sua tradição, recitava poemas de Clarice Lispector, Waly Salomão e Fernando Pessoa. A regência musical ficou a cargo do renomado Jorge Helder.
Além disso, o ano de 2015 também assinalou o meio século de carreira dos quatro integrantes dos Doces Bárbaros, culminando numa turnê celebratória do 26º Prêmio da Música Brasileira. Essa turnê, que percorreu várias cidades, foi calorosamente recebida tanto pelo público quanto pela crítica.
em 2024. Maria Bethânia e Caetano Veloso anunciaram uma turnê pelo Brasil. Mesmo assim, no fim do ano passado, os cantores, que são irmãos, chegaram a negar que estavam planejando uma turnê.